Por João Gualberto e Ana Carolina Andrade
Estamos nos dedicando a tentar elucidar o papel dos evangélicos na sociedade brasileira, dada a importância e densidade que o “povo de Deus” ganhou ao longo das últimas décadas. Povo de Deus esse que não entendemos, como muitos o fazem por puro e simples preconceito, como “manipulados” por seus pastores – midiáticos ou não – ou suas igrejas. A tese da manipulação não dá conta de explicar os enormes efeitos sobre a sociedade que o grupo tem tido.

Aqui, defendemos a existência de uma identidade evangélica, construída a partir de vários princípios. Calcados nos preceitos bíblicos, eles compõem o que chamamos de “imaginário evangélico brasileiro”, onde a ideia da busca da prosperidade está inserida. Tais princípios englobam a excelência, o trabalho, a autoridade, o temor, a obediência e muitas outras coisas. São, em grande parte, conservadores e, como temos percebido, se estendem a um mundo do cristianismo que envolve também os católicos, ou boa parte deles.
Existe, de fato, um cristianismo conservador no Brasil, que alimenta esse imaginário do qual estamos falando. O fenômeno do crescimento evangélico no Brasil – ponto de virem a ser maioria da população brasileira na próxima década – em nada se destoa das nossas bases cristãs históricas. São, na verdade, seu aggionarmento, sua atualização para o Brasil moderno.
Mas, vamos ao tema de hoje. O crescimento exponencial das igrejas protestantes no Brasil que se deu a partir dos anos 1970. O enraizamento popular do cristianismo reformado se deu pelo chamado “neopentecostalismo”, a partir da Igreja Universal do Reino de Deus e da liderança inconteste do Bispo Edir Macedo. Dele surgiram outras denominações fortes nesse campo como a Mundial do Poder de Deus do Apóstolo Valdemiro Santiago, a Igreja Internacional da Graça de Deus sob a liderança de R. R. Soares, dentre muitas outras. São igrejas de base popular, frequentadas por pessoas pretas, pobres e moradoras das periferias miseráveis desse imenso Brasil. A maioria é feminina. Nesse universo as carências são brutais. Materiais, emocionais e educacionais. É uma massa que precisa ser ouvida, atendida, ter sua dor mitigada pela presença de Jesus em suas vidas e por suas bênçãos (espirituais e materiais).

Assim, as igrejas neopentecostais, que trabalham a ideia da prosperidade, se implantaram fortemente nesses setores sociais. A chamada Teologia da Prosperidade, que alguns até chamam de Pedagogia da Prosperidade, dada a intensidade e frequência dos ensinamentos nessa direção. Isso tem enorme importância na compreensão do sucesso e do crescimento dessas denominações entre os mais pobres no Brasil: se Deus é o dono do ouro e da prata qual a razão de nós, filhos e filhas dele, não os possuírem?
Nós temos mesmo chamado esse fato social de enorme relevância da Reforma Protestante à Brasileira, ou de Reformas Protestante à Brasileira, e consideramos que a grande contribuição que dará a cultura brasileira a longo prazo será a ideia de que podemos vencer a pobreza, a miséria, as dificuldades do dia a dia pela nossa ação empreendedora, autônoma. Dessa forma, uma forma de servir a Deus é poder aproveitar todos os bens que a sua criação colocou à nossa disposição.
Esses contingentes sociais refutam o assistencialismo governamental puro e simples. Querem vencer por seus esforços. Acreditam e buscam a prosperidade para suas famílias através do trabalho árduo e da bênção divina, do fato de serem bons cidadãos. Convenhamos, é uma enorme mudança de tons no nosso imaginário social a ideia da prosperidade que virá do trabalho duro.
Artigo publicado originalmente no Jornal ES Hoje, no dia 14 de setembro de 2022.

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