A febre da direita

Por João Gualberto e Maria Vitória Rodrigues

Em toda eleição estão presentes elementos estruturais, desses que organizam e alimentam a política e fazem parte do imaginário social. Também estão presentes aqueles que podemos chamar de conjunturais. Esses últimos dizem respeito à conjuntura e ao contexto de cada processo eleitoral. No caso daqueles que nos estruturam estão a fragilidade da estrutura partidária, o caciquismo interno dos partidos, a imensa estrutura de favores que se forma para captar votos, a força do capital nos processos, a baixa presença feminina, dentre outros.

Os conjunturais mudam dependendo do contexto próprio a cada processo. No caso de 2022, temos uma continuidade da polarização esquerda x direita, Lula x Bolsonaro iniciada em 2018 e aprofundada em 2022. Em 2018 foi uma polarização bem forte, mas em 2022 está sendo uma hiperpolarização. O surpreendente desempenho das forças da direita conservadora no primeiro turno, deram a elas uma presença determinante nesse momento eleitoral. A volatilidade que marca as eleições brasileiras não nos permite afirmar quem vai vencer o pleito nacional, mas será certamente uma reta final muito nervosa.

Jair Bolsonaro, atual presidente e candidato à reeleição em 2022.

Quanto à conjuntura estadual, o panorama também é muito revolto, porém a grande marca desse segundo turno capixaba é a ascensão ainda maior da direita. Foram vitoriosos no primeiro turno, sobretudo pela surpresa da produção da segunda volta das eleições, a eleição de Magno Malta como senador da república, além disso, pela expressiva votação de Gilvan da Federal, do Tenente Assis, do Capitão Assunção, do Serginho Meneguelli, dentre outros.

A esquerda também foi vitoriosa com Helder Salomão. Jack Rocha surpreendeu a todos. Se a votação de Gilvan da Federal foi uma enorme surpresa, é sempre bom lembrar que Helder Salomão do PT foi o deputado federal mais votado do Espírito Santo. O eleitor puniu os que não ingressaram na polarização. O PSDB não conseguiu eleger um só deputado federal. Nomes como Sergio Majeski e Max Filho tiveram baixa votação.

No fundo, nossa conjuntura não admite meios termos em 2022. Helder, Jack, João Coser, Camila Valadão são de esquerda. Manato, Magno Malta, Gilvan, Assunção, Assis são de direita. Será assim também no segundo turno. Aliás, será ainda mais forte no segundo turno. Esquerda e direita vão se enfrentar nacionalmente e regionalmente. Cremos que Bolsonaro e Manato crescerão no Espírito Santo. Difícil nesse momento dizer quanto, mas certamente crescerão. E qual será a reação do PSB local frente a isso? Vão abraçar a hiperpolarização e enfrentar a direita ou irão tentar evitar o enfrentamento?

Carlos Manato, candidato ao Governo do Espírito Santo em 2022.

A resposta não está dada. Não é fácil para Renato Casagrande colocar o Lula no seu palanque, dada a trajetória política de sua carreira e o posicionamento político do capixaba, que elegeu Bolsonaro no Espírito Santo. Longe de ser o comunista da propaganda da direita, o que será então Casagrande nesse segundo turno?

Artigo publicado originalmente no Jornal ES Hoje, no dia 14 de outubro de 2022.

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