A força do segundo turno

Por João Gualberto

As eleições em duas etapas foram introduzidas na vida política brasileira a partir de 1989, nas eleições protagonizadas por Fernando Collor e Lula no segundo turno. No caso brasileiro, para vencer na primeira rodada eleitoral é preciso ter metade mais um dos votos. Quando um candidato não consegue esse número no primeiro turno, os dois mais votados voltam as urnas.

A lógica desse dispositivo eleitoral, é permitir que se construa uma maioria que não houve no primeiro turno, um leque mais amplo de apoio. No caso das eleições que se encerraram no domingo, o mesmo raciocínio pode se aplicar tanto ao caso nacional quanto ao caso capixaba. A campanha de Lula esperava sua vitória em 02 de outubro. Ela não veio com os recursos que foram utilizados, como a presença de Geraldo Alckmin no palanque. Foram para o segundo turno e agregaram mais forças políticas ao processo.

Simone Tebet declarou apoio a Lula após o 1º turno.

Simone Tebet foi o maior exemplo disso. Agregou muito a campanha. É uma das vencedoras de 2022 e sai maior do que entrou. Agora na transição, a escolha de Alckmin para coordenar politicamente e tecnicamente a sua gestão, mostra que o presidente eleito acena ao centro, acena ao mercado e as forças que não são de esquerda. Ou seja, o segundo turno consolidou a ideia de que não deve haver um governo de esquerda. O Brasil espera mais um momento de conciliação.

No caso capixaba, a campanha do governador Renato Casagrande também esperava a vitória no primeiro turno. Era, aliás, o mais provável. Houve, entretanto, um crescimento vertiginoso da direita no Espírito Santo. Candidatos a assembleia e a câmara federal cuja eleição não era esperada, tiveram votação muito expressiva e foram verdadeiros fenômenos eleitorais. Essa febre da direita impactou a campanha e levou Carlos Manato ao segundo turno. Casagrande teve que ampliar suas bases para vencer o pleito.

Renato Casagrande e Ricardo Ferraço, chapa vitoriosa na disputa para o governo do Espírito Santo em 2023.

A maior evidência disso foi a participação do vice-governador eleito, Ricardo Ferraço, nos atos de campanha no segundo turno. Foi fundamental na vitória. A participação dos prefeitos Euclério Sampaio e Arnaldinho Borgo também foram fundamentais, isso para ficar em exemplos mais visíveis. Eles são de direita. Ou seja, campanha a vencedora acenou claramente para o campo conservador.

Em suma, o crescimento do conservadorismo em nossa sociedade se desdobrou nas campanhas vencedoras. No caso específico do Espírito Santo, certamente o terceiro governo de Casagrande será mais amplo do que sua tradicional base no PSB, até para respeitar o resultado das urnas.

Artigo publicado originalmente no Jornal ES Hoje, no dia 2 de novembro de 2022.

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