Por João Gualberto e Maria Vitória Rodrigues
O Presidente Jair Bolsonaro foi muito bem votado no Espírito Santo, aqui ele teve 58% dos votos no segundo turno. Muito além da média nacional. Aliás, nas eleições de 2018, quando se elegeu, teve aqui 63% dos votos. Somos um estado onde a liderança de Bolsonaro é muito forte. Um estado bolsonarista, enfim. Tão forte que elegeu seu aliado Magno Malta Senador da República, derrotando a experiente senadora Rose de Freitas, que teve o apoio do governador reeleito Renato Casagrande.

No primeiro turno Bolsonaro teve 52% dos votos e ajudou a eleger aliados na bancada federal e na estadual. Gilvan da Federal, até então vereador no primeiro mandato em Vitória, foi o segundo mais votado para a câmara. A expressiva votação de personagens na nova direita capixaba na assembleia legislativa, como o Capitão Assunção, ficou muito acima do que esperava o mercado político, para ficar em dois exemplos marcantes.
Em termos da eleição para o governo do estado, foi surpreendente a votação de Carlos Manato do PL, que fez campanha colada na de Bolsonaro, nos dois turnos. Só o fato de ter provocado um segundo turno já foi em si mesmo um grande feito. O governador em campanha e seus principais aliados como o prefeito de Cariacica Euclerio Sampaio fizeram uma inflexão a direita, sobretudo quando o governador faz notáveis esforços para captar eleitores de Bolsonaro. Essa inflexão a direita, produzirá modificações importantes no próximo governo Casagrande. Afinal terá que haver uma compensação em termos de formação de governo, alianças políticas e mesmo políticas públicas para essa fração de eleitores mais conservadores.
Mas independente desse participação do tabuleiro político comandado por Casagrande, o que já é um ganho em si, o que de mais orgânico a direita capixaba está pensando? É uma questão política e eleitoral importante, com desdobramentos na governabilidade e no relacionamento com a assembleia. Do ponto de vista eleitoral, o primeiro efeito desse posicionamento se verá nas eleições municipais do ano que vem. Bolsonaro venceu a eleição em 61 dos 78 municípios capixabas, terá certamente candidatos na maioria deles. A questão concreta é como se organizarão, como conseguirão manter a uma identidade da direita nos mesmos moldes de 2022. Esse elemento ainda não está claro.
O que queremos argumentar é que a organização da nova direita em nosso estado foi feita a partir da forte liderança do presidente-candidato. Agora não sabemos como isso vai se dar. Da construção de rede de lideranças conservadoras depende em grande parte o seu sucesso eleitoral. Lideranças municipais normalmente se vinculam a lideranças estaduais. Essa construção da liderança estadual vai ser resolvida aos poucos. Ainda não sabemos o quanto os bem votados desse pleito jogarão esse jogo.
Mas uma coisa é certa. Há uma enorme densidade na direita conservadora que se construiu entre os evangélicos. Achamos mesmo que o amalgama central de valores vem desse segmento de eleitores. Enquanto empresários estão normalmente preocupados com a agenda econômica do governo, os evangélicos em particular e os católicos conservadores de uma forma geral, buscam valores, buscam princípios que se encontram no plano moral.

Pode ser até que os novos passos da nossa direita sejam dados no campo dos valores cristãos. Certamente eles são mais densos e permanentes do que os interesses que se articulam em torno do campo meramente eleitoral. Pensemos em um exemplo, a Igreja Cristão Maranata, nascida no Espírito Santo e muito influente aqui. Dela podem surgir muitas lideranças articuladas em termos de um discurso musculoso no campo moral. Será como uma célula de líderes. Todas as demais denominações podem fazer o mesmo. Ou seja, toda atenção dele ser dada a esse segmento.
Artigo publicado originalmente no Jornal ES Hoje, no dia 16 de novembro de 2022

Deixe um comentário