Jorge Caldeira

Por João Gualberto

“Mauá: empresário do Império”, obra publicada pela primeira vez em 1995.

Convidado por Jorge Caldeira fui a sua posse na Academia Brasileira de Letras no último dia 25. Uma festa e uma celebração da obra desse grande intelectual. Historiador produtivo tem uma extensa produção, onde é difícil saber qual a mais importante. Seguramente o mais conhecido de seus livros é “Mauá: um empresário do império”, no qual destaca o papel do grande empreendedor do século XIX e sua luta contra a incrível burocracia imperial brasileira e também contra a mentalidade escravocrata que dominava os círculos de poder de sua época.

“O banqueiro do sertão”, publicado em 2006.

O livro sobre José Bonifácio de Andrada e Silva, é de uma profundidade extraordinária e coloca luzes sobre os movimentos políticos e econômicos que produziram nossa independência, que tem muito mais densidade do que o simbólico grito do Ipiranga, que aliás só ganhou importância depois da pintura de Pedro Américo. O quadro é de 1888, portanto do fim do período imperial. Até então o gesto simbólico tinha pouca importância. O que importava mesmo como símbolo da independência na época era a coroação de Pedro I em 01 de dezembro de 1822. Lendo o que Caldeira pesquisou e escreveu sobre a vida de José Bonifácio podemos entender melhor como ele foi fundamental na construção do Brasil, da invenção da nossa nacionalidade.

Outra obra fundamental é o “Banqueiro do Sertão”, onde ele narra o início do processo de descoberta do ouro no Brasil e os mecanismos de seu financiamento, aliás não só do ouro como também de todo o processo de interiorização das atividades produtivas na então colônia. Da leitura, a gente entende como faziam os bandeirantes para obter recursos para suas aventuras no sertão daqueles tempos. A trajetória do Padre Guilherme Pompeu de Almeida, é o fio condutor de uma história construída quase em forma de romance, onde fica destacado o empreendedorismo desses personagens. Jorge Caldeira destaca a formação do que ele chama do capitalismo Tupinambá, ou seja, a incrível articulação de culturas que nos produziu e que produziu nosso capitalismo. Isso não quer dizer que ele defenda que ouve igualdades nesse amalgama, antes pelo contrário ouve clara imposição da lógica cristã portuguesa.

“História da riqueza no Brasil”, que teve sua primeira publicação em 2017.

Finalmente, a “História da Riqueza no Brasil”, o mais recente dos três, é uma obra síntese de suas formulações, onde fica claro o caráter empreendedor de nossa sociedade, muito mais ampla do que costuma descrever nossa historiografia tradicional. Muito me inspiro em Jorge Caldeira para tentar entender o que se passou no Espírito Santo. Nossa trajetória também é de muito empreendedorismo, que fica claro na fase colonial pela produção nas fazendas jesuíticas desde o século XVI até o ciclo do café, a partir da segunda metade do século XIX.

É falsa a afirmativa história de que fomos sacrificados pela coroa que estabeleceu a capitania do Espírito Santo como uma barreira verde entre o mar e as Minas Gerais. O ouro é importante – e põe importante nisso – no século XVIII. Portanto tivemos dois séculos de atividades econômicas antes da tal barreira verde. O ciclo teve seu auge nesse século. Logo depois chegariam ao Brasil as cortes portuguesas e começaríamos outro período. Portanto atribuir um certo marasmo colonial a um determinado período de um ciclo mais amplo é puro preconceito.

Artigo publicado originalmente no Jornal ES Hoje, no dia 30 de novembro de 2022.

Posted in

Deixe um comentário