Micro nacionalismo: paixão pelo seu lugar

Por João Gualberto e Helio Gualberto Neto

Os brasileiros não são, de uma forma geral, vinculados aos grandes símbolos nacionais. Salvo a Copa do Mundo, que diz mais  respeito a nossa relação com o futebol, e fenômenos políticos mais recentes, nunca foi uma marca da nossa sociedade o orgulho de ser brasileiro. Pelo contrário, Nelson Rodrigues consagrou a expressão “complexo de vira-latas” como uma forma dos brasileiros se colocarem de forma inferior ao resto do mundo. Diferentemente dos americanos, por exemplo, que se consideram uma nação vitoriosa, têm a prática de jurar a bandeira todos os dias nas escolas e tem como seus principais feriados datas como a independência e o dia do veterano de guerra. 

Os franceses orgulham-se de serem os pais do mundo moderno, com a democracia, os partidos políticos, a liberdade de imprensa, a educação das massas e o conceito moderno de cidadania. Orgulhos que não desenvolvemos.

Existe, entretanto uma dimensão importante entre nós brasileiros, o amor que desenvolvemos pelos lugares onde vivemos. Nossas cidades. Existe aqui aquilo que costumo chamar de micro nacionalismo. Um sentimento que também pode ser chamado de bairrismo. Nos muitos anos que atuamos analisando pesquisas de opinião, vimos isso inúmeras vezes. As pessoas se apegam aos símbolos de seus municípios, sejam eles pedras, lagoas, praias, edificações históricas.  Cada detalhe desse amor é supervalorizado. Comete enorme gafe quem chega a uma cidade com visitante e menospreza esse sentimento. Ganha pontos quem os promove, quem os valoriza.

Foi em busca dessas emoções, amores e sentimentos que a Persona foi às ruas entrevistar os moradores dos quatro maiores municípios da Grande Vitória: Serra, Vila Velha, Cariacica e Vitória. E o que encontramos não só confirmou essa impressão, como tornou ela ainda mais clara.

Convento da Penha, eleito pelos moradores de Vila Velha na pesquisa “Grande Vitória, Grandes Amores” como o ícone cultural da cidade.

De Cariacica a Serra, passando por Vila Velha e a capital Vitória, a maioria absoluta dos moradores da Grande Vitória amam as cidades em que vivem. Seja por fatores naturais, como as belezas das suas cidade, pela qualidade de vida oferecida ou pelos afetos que se criam com vizinhos e pessoas próximas, a média das cidades da região metropolitana certamente merece destaque. 

O estudo que a Persona desenvolveu, em parceria com o ESHoje, vai mostrar esses e diversos outros aspectos que ajudam a entender a relação das pessoas com seus municípios. O que gostam, o que não gostam e, só para ficar em um exemplo, se elas se mudariam para outro município da região metropolitana.

É mais uma forma importante de nos conhecermos e nos valorizarmos. Em um período que o país ainda se encontra em alta temperatura após uma eleição que literalmente dividiu sua sociedade, o exercício de olhar para aquilo que temos de melhor e mais positivo, neste caso, o amor que temos pelo lugar que vivemos, é uma forma de buscarmos pontos em comum que nos valorizam como sociedade e talvez ajudem a afastar complexos que não contam de fato quem somos. E isso não é pouco. 

Artigo publicado originalmente no Jornal ES Hoje, no dia 4 de janeiro de 2023.

Posted in

2 respostas para “Micro nacionalismo: paixão pelo seu lugar”.

  1. Avatar de Maria Elvira
    Maria Elvira

    Muito bom. Como sempre!

    1. Avatar de Jô Drumond
      Jô Drumond

      Eu nunca havia pensado no “micro nacionalismo” brasileiro.
      Você tem razão, João Gualberto.
      Trata-se de uma forma de valorizar nossas origens e os aspectos consuetudinários de nosso torrão

Deixe um comentário