O amor em nossas vidas

Por João Gualberto e Helio Gualberto Neto

Há alguns anos atrás, uma rede de noticias perguntou ao antropólogo Roberto DaMatta sobre suas expectativas para um ano que se aproximava. Ele deu uma resposta curiosa, que me chamou atenção: disse que esperava amor na sua vida e saúde na sua família. 

Enquanto nas mesmas circunstancias  especialistas falavam da inflação, dos riscos da política nacional e assuntos sérios assim. No fundo, ninguém mata ou morre por causa desses grandes distúrbios nacionais. Ninguém perde o sono ou a fome por eles. O que nos mobiliza são nossas tragédias e alegrias pessoais. Um amor perdido, a traição da mulher ou do homem de seus sonhos, um casamento desfeito, um filho perdido para as drogas, não poder saciar a fome dos filhos. 

Cito de memória, e como já fazem muitos anos, posso não estar sendo preciso, mas o sentido é exatamente esse.

Poderíamos levar em conta também os escritos de Nelson Rodrigues, esse escritor maravilhoso e que marcou época com seus personagens envolvidos em dramas e tramas suburbanos e cheios de erotismo e paixão. Dizia que só se morre de amor na Zona Norte, referindo-se ao Rio de Janeiro de seus tempos. Esse sofrimento que só o amor não correspondido pode dar, e que ele descreveu e explorou com maestria.

Foi com este inspiração que desenvolvemos nosso estudo para compreender o quanto os capixabas, moradores da região metropolitana do ES, amam suas cidades.  Os resultados, aqui apresentados aqui no ES Hoje, naturalmente também buscaram a avaliação de elementos da economia, mobilidade urbana e oferta de serviços, entre outros mais racionais. Mas assim como na vida, eles são fios de uma noção que se coloca na vida das pessoas não por meio do racional. Mas daquilo que se passa no coração. 

Pôr do sol no Morro do Moreno.

O que vimos foi a força do amor dos habitantes da Grande Vitória por suas cidades. Em nossas trajetórias como profissionais de ciências sociais, pesquisa e comunicação, essa ideia é sempre presente. Ao dialogarmos com as pessoas sobre o tema das cidades, nosso grande exemplo, observamos que muito mais do que elementos racionais e objetivos, nossas conversas sempre destacaram a relação das pessoas com os lugares em que vivem. Os amigos, a família, o acolhimento de vizinhos, a admiração pelos lugares e aquilo que a cidade oferece. São esses os elementos que dão significado àquilo que entendemos como cidade. O amor. 

Uma analogia para que a gente não esqueça do aspecto humano, de olhares como o do grande professor DaMatta e dos sentimentos das pessoas em todas as coisas que fazemos em nossas vidas. Pois da gestão de uma empresa à complexa administração de uma cidade, muitas vezes o que vemos do outro lado desta relação são organizações em busca de indicadores sólidos e racionais. Mas no fim das contas, são as pessoas e suas histórias que vão tornar tudo isso, que é da ordem do racional, em amor. Talvez a única coisa que interesse.

Artigo publicado originalmente no jornal ES Hoje no dia 15 de fevereiro de 2023.

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Uma resposta para “O amor em nossas vidas”.

  1. Avatar de Rose Triatão
    Rose Triatão

    Joao!!

    Que texto lindo! Eu sempre disse que o que faz a diferença entre as pessoas é o quanto elas foram amadas na infância!
    Nao, necessariamente, o amor que os pais
    (ou quem ocupou esse lugar) lhes dedicou, mas o amor que “compareceu” nessa relação!!
    Esse resultado da pesquisa mostra que o importa na vida é o amor!!!

    Adorei o texto!
    Abraço!
    Rose Tristão!

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