Por João Gualberto
O deputado estadual recém-eleito Sérgio Meneguelli – verdadeiro fenômeno eleitoral de 2022, o mais votado do estado e proporcionalmente o mais votado do Brasil – não pretende comparecer às sessões da assembleia legislativa de terno, como prevê o regimento interno da casa. Quer continuar usando suas camisas com o slogan “I love Colatina”, numa versão local da marca que consagrou Nova Iorque.

Como uma solução para o dia da posse, usou um blazer jeans. Uma solução bem na linha do jeitinho brasileiro. Pelo que a imprensa informa, ele pretende continuar com a sua informalidade que rendeu uma multidão de votos. Tem lá suas razões. Mesmo porque há um deputado da extrema direita que comparece de uniforme policial, mesmo sendo reformado, portanto não está de terno. Por que não o “I love Colatina”? Cada um com o seu marketing.
Embora não me pareça que o deputado queira politizar sua postura pessoal, ela comporta uma análise. Por que razão a casa do povo, que representa os interesses de uma população majoritariamente pobre, desassistida e às voltas com problemas que vão da fome à falta de médicos, remédios e hospitais, exige dos deputados paletó e gravata? Esteticamente, a nossa casa de leis está perdida nos anos 1950, quando era exigido de todas as autoridades uma sobriedade que somente o terno podia expressar.
Nos tempos das redes sociais, no mundo da informalidade dos influenciadores digitais, em uma sociedade que veste bermudas, esse tipo de exigência me parece anacrônica, elitista e excessivamente formal. O razoável seria acabar com esse tipo de formalidade, dando aquela casa a cara que o nosso país quente, informal e pobre tem. Certo está o deputado Meneguelli quando quer manter o seu estilo consagrado de campeão de votos.
Aliás, o anacronismo estético do poder no Brasil também se expressa em outros espaços. Quando a República foi implantada no Brasil, em 1889, o foi através de um golpe militar, uma quartelada conduzida pelas elites até então monarquistas e insatisfeitas sobretudo com o fim do trabalho escravo. Não foram razões exatamente democráticas. A República consagrou um poder no qual o mandatário maior era uma espécie de imperador por quatro anos. Centralizador, autoritário e pilotando um regime excludente e machista.
Restos dessa postura ainda estão aí. Tanto é que nossos governantes habitam palácios, na velha nomenclatura imperial. Existem palácios para tudo, para o executivo, para o legislativo e para o judiciário. Todo prédio imponente vira um palácio. Restos de um passado que insiste em ser presente. O mundo simbólico também se transforma em real como todos sabemos. O real simbólico brasileiro habita palácios vestido de terno. Mais distante do povo impossível.
A sociedade brasileira tem importantes problemas a resolver para se tornar moderna, igualitária. Certamente enfrentar todos esses problemas exige coragem e abandono de velhas posturas. Existe muita coisa a ser desconstruída nessa longa trajetória. Existem prioridades certamente, mas o elitismo e a distância da população que se expressa uma forma de se vestir da velha república que morreu em 1930, há quase um século, certamente é uma delas.
Artigo publicado originalmente no jornal A Gazeta no dia 25 de fevereiro de 2023.

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