Por João Gualberto e Helio Gualberto Neto
Nesses novos tempos que estamos vivendo, fortemente marcados pelas redes sociais, pela comunicação instantânea, pela realidade tomada pelo chamado tempo real, quase tudo que existe ganha novos contornos para se adaptar ao espaço digital. Produtos, serviços e lugares não são mais os mesmos quando ganham um novo sentido reproduzidos na rede. E as nossas vidas deixaram de ser vividas na solidão de nossas casas, no reduto de nossas famílias. Ficaram públicas. Aliás, ganharam um novo valor porque ficaram públicas. Se não está nas redes, não está no mundo.

Neste espaço em que a comunicação parece permanente, reproduzimos mais do que nossas imagens. Mas nossos valores e nossas culturas. E o sucesso, como significação imaginária social, é um deles. Em determinadas sociedades ele podia ser medido pela força física, pela habilidade guerreira. Em outras pela produção de obras de arte notáveis ou pelo acumulo de muitos bens. O sucesso não tem significação fora do campo do imaginário social de um tempo. De uma criação histórica datada.
Daí vem o encontro que queremos observar mais de perto. Se por quase todo o globo a noção de sucesso da atualidade está ligada ao dinheiro. Em uma sociedade que trata o business as usual como modo de fazer e o consumo como grande valor a ser perseguido, nos chama atenção a construção de uma estética em particular. É a estética do sucesso.
Incisivos, afirmativos, disciplinados, com capacidade de transformar suas próprias vidas e muitas vezes mostrar a milhares de pessoas o caminho do sucesso. Os detentores do sucesso passam a ser gurus da vida moderna com uma estética inspirada nos valores de uma sociedade que colocou o dinheiro como métrica de realização dos seres humanos.
Esse formato e estilo passou a ser a linguagem de profissionais de todos os campos. Dos caricatos coachings a líderes religiosos. De presidentes de países às nossas vidas cotidianas, onde buscamos momentos compartilháveis nas redes sociais.
Sem a pretensão de condenar ou aprovar uma ideia que vem dos tempos e das pessoas, nossa intenção é criar consciência de que a ideia de construção de imagem e busca do belo da estética dizem respeito a retratos. Que podem ser produzidos ou são a captura de um momento único. Enquanto a vida é movimento constante e necessidade de se abraçar a incerteza.
Por isso é tão importante fazer essa distinção para não colocarmos como única regra algo que não se sustenta no tempo.
Até porque, o tempo não está do nosso lado. A estética do sucesso diz respeito a formas de ver o mundo que desconectaram a noção de sociedade e da natureza. E o planeta não para de mostrar que nosso tempo como espécie que não convive em busca do equilíbrio, mas em disputa, está por acabar.
Artigo publicado originalmente no jornal ES Hoje no dia 24 de março de 2023.

Deixe um comentário