De onde nascem as soluções?

Por João Gualberto e Helio Gualberto Neto

A maioria dos manuais de administração nos quais se estudam nas universidades brasileiras tratam a história da gestão a partir da experiência americana. Ensina-se que o primeiro estudioso foi Taylor, criador do taylorismo no início do Século XX, na chamada Escola Clássica, depois seguida pela Escola das Relações Humanas. O percurso é completo por outras tendências que se afirmaram no processo. 

O mesmo tipo de raciocínio é aplicado às demais disciplinas do curso, como marketing ou recursos humanos. Ou seja, nessas matérias, é comum se desconsiderar as práticas gerenciais brasileiras. O que se passou nos engenhos de cana de açúcar, de fato nossas primeiras fábricas,  para ficar em um exemplo, fica longe do horizonte de aprendizado profissional.

Esse é o princípio que rege a produção das instituições sociais no Brasil, com o esquecimento quase que total do que se passou aqui. Uma busca de modelos idealizados nas realidades dos países capitalistas de ponta. Um bom exemplo é o nosso modelo de estado republicano. Copiado que se passava ao norte começamos nos chamando Estados Unidos do Brasil, e montando um regime republicano federativo como se fossemos os estados federados norte-americanos. 

O que se viu na prática, naturalmente, ficou distante da intenção. O Brasil inspirado no modelo norte-americano, tornou-se um feudo dos velhos coronéis em que a inspiração democrática ganhou contornos de uma cultura aristocrática, moldada sob a violência e as perversas relações de poder da escravidão. 

Essa nação, cujo modelo de construção institucional é cópia de experiências de outros países, produziu um jeitinho de conviver com  máscaras institucionais que se adaptam mal a face cabocla de cada um de nós.

Não por acaso, um dos poucos autores clássicos na área de gestão que verdadeiramente estudou o Brasil, Guerreiro Ramos, sociólogo baiano, trabalha como conceito a Redução Sociológica: a ideia que cada instituição estrangeira ao ser implantada no Brasil tinha que ser adaptada para as nossas circunstâncias.  Assim, não adianta implantar – por exemplo – o código de trânsito que na Suécia dá bons resultados, se não temos no Brasil suecos para honrá-lo.

É a partir deste pensamento que a sociologia das organizações precisa voltar a ser praticada entre nós. Como caminho para encontrar soluções que, de fato, façam sentido para as pessoas e comunidades que aqui vivem. Seja por meio da administração ou de olhares mais contemporâneos, como o do design estratégico, abordagem que coloca as pessoas no centro dos processos de decisão para construir soluções, melhores processos e ações. 

O que acreditamos é que neste momento em que a cultura globalizada se coloca nos negócios, no comportamento e na comunicação, tão ou mais importante quanto dialogar com o conhecimento global  é buscar soluções e respostas adequadas a partir das condições únicas de um lugar específico, de uma sociedade determinada e de sua cultura. Uma prática que por mais que pareça óbvia, ainda é distante para um pais tão jovem e onde se olha mais para fora do que para os nossos exemplos. 

Artigo publicado originalmente no jornal ES Hoje no dia 11 de abril de 2023.

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