O papel do Centrão e o que vem após Lula e Bolsonaro

Por João Gualberto

Escrevi há mais de 10 anos artigo em A Gazeta, que está no meu blog pessoal, chamado O Pemedebismo na Cultura Política Brasileira. Nele comentei um livro que acabava de ser lançado, o Imobilismo em Movimento, de Marcos Nobre. O autor fez no trabalho importante resgate dos acontecimentos políticos brasileiros no pós ditadura, o período estudado foi o de 1985-2014. O seu foco especial foi a construção da nossa cultura política contemporânea, em especial do que ele chama do pemedebismo, que considera estruturante em nosso caso.

A chave interpretativa que ele usa é o pemedebismo como uma espécie de blindagem do sistema político, represando as forças de transformação. Sempre foi o nosso balcão de negócios no dia a dia da política e na busca de resultados sem preocupações morais. Ele usou o termo pela força do PMDB naquela época, mas na verdade a análise vai muito além dele, chega ao nosso modo de fazer política. Heranças do nosso velho coronelismo, essa vertente se aprofundou na constituinte, se fortaleceu no impeachment de Collor. Fernando Henrique e Lula a usaram todas as vezes que precisaram, como na aprovação do instituto da reeleição na gestão FHC, no controle das bases no mensalão no primeiro governo Lula.

Lembrei desse texto, tentando fazer uma breve reflexão sobre a trajetória histórica do chamado pemedebismo, movimento que acabou por fundar o centrão, que está imerso no que há de mais longevo no nosso imaginário político. Ele é produto e produtor de nossos impasses. Manda muito. Foi tão fundamental na gestão de direita de Bolsonaro quanto na de esquerda de Lula. Qualquer resultado eleitoral em 2022, o colocaria no epicentro do poder. As tramas legislativas brasileiras têm certa autonomia em relação a ideologia que está no poder entra no executivo. 

Um dado desse momento que estamos vivendo, ajuda a explicar o novo papel desse setor pragmático.  A eleição da bancada da lacração, um grupo de extremistas que opera a política através das redes sociais, que acaba por empoderar o agora centrão no verdadeiro jogo de poder atual.  A experiência política e parlamentar dos líderes desse agrupamento político é fator determinante desse movimento.

Não é só isso, há uma inflexão em jogo. Duas manifestações públicas mostram a construção de uma identidade mais contemporânea do Centrão: a entrevista do presidente da câmara dos deputados Arthur Lira no Globo de 30 de abril e do presidente nacional do PP, o ex-ministro Ciro Nogueira no programa Roda Viva do dia 24 do mesmo mês de abril. Em ambas fica nítida a busca de um papel mais programático, um perfil de centro direita. Parece que vai ficando claro que sem uma proposta de sociedade o toma dá cá não se sustenta. Ele continuará existindo é obvio, mas está entendido que para esses atores políticos a sociedade tem que mudar a percepção sobre eles. Já foram a praga para os bolsonaristas de 2018. Não querem continuar sendo.

Esse movimento explicito de aceitar o nome Centrão e passar a operar um descolamento para a centro direita tem tudo a ver com o futuro político do Brasil. Começando pelas eleições municipais, e depois as regionais e nacionais em 2026. Vai incorporar mais claramente uma narrativa mais moderna, uma imagem mais compatível com o Brasil atual.

Tudo isso está em plena construção. Tudo isso pode ter inflexões de várias ordens, mas uma coisa é certa, estão percebendo que os extremismos estão chegando ao fim, e querem construir uma nova alternativa eleitoral. É, de certa forma, o pós Lula e Bolsonaro, com pautas mais claras e identidade defendidas publicamente.

Artigo publicado originalmente no jornal A Gazeta no dia 06 de maio de 2023.

Posted in

Uma resposta para “O papel do Centrão e o que vem após Lula e Bolsonaro”.

  1. Avatar de Carlos Roxo
    Carlos Roxo

    Queria acreditar que os extremismos estão chegando ao fim, mas pessoalmente tenho muitas dúvidas. As Redes Sociais alimentam os extremos e influenciam cada vez mais o panorama político, no Brasil e no Mundo

Deixe um comentário