Por João Gualberto
O capital político do ex-presidente Jair Bolsonaro entrou em combustão desde que tornou-se inelegível, por decisão do TSE. Seus movimentos, tentando impedir a aprovação da Reforma Tributária e a desavença com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ampliaram a velocidade do desgaste. Isso acabou isolando, nesse momento, o líder inconteste da direita brasileira, sobretudo de sua fração mais extrema.
Temos agora uma fragmentação da coalizão que permitiu a eleição de Bolsonaro em 2018 e a sustentação do seu governo. O estilhaçamento dessa imensa massa de partidos, políticos e instituições certamente vai reconfigurar o processo de poder, tanto a nível nacional como local. Nacionalmente, a construção política realizada por Arthur Lira, Tarcísio de Freitas e Fernando Haddad, na reforma tributária é uma demonstração do novo eixo de soluções políticas que se desenha. Aparentemente, estamos começando a superar a polarização que invadiu espaços públicos e privados nos últimos anos. Por inúmeros motivos e, por enquanto, é apenas uma tendência.
Em nosso estado, outros elementos que influenciam a realidade estão sendo gestados. O fato do governador Renato Casagrande não poder ser candidato a reeleição, e o ex-governador Paulo Hartung ter se afastado da cena política pública capixaba, abre caminho a muitas possibilidades de arranjo.
Com a redução do extremismo, capitaneado por Bolsonaro, a chamada pauta de costumes perde força, diminuem as narrativas nascidas no Brasil Paralelo com Olavo de Carvalho e ganham espaço as questões mais objetivas e mais econômicas, como mostram as pautas surgidas com a reforma tributária. E com isso, a centro direita deve crescer.
A centro esquerda tende a ficar sócia nos avanços que o governo Lula conseguir fazer. Assim, as placas teutônicas vão se movendo e novos arranjos tendem a surgir, inclusive regionalmente. São bastante evidentes os movimentos que estão fazendo a cúpula regional do PP – partido de Arthur Lira e Ciro Nogueira – sobretudo os deputados federais Da Vitória e Evair Melo. Também fazem parte dessa nova cena política, o presidente da assembleia legislativa Marcelo Santos e o prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo, ambos do Podemos. Isso para ficar em alguns exemplos. Afinal, não existe vazio no poder.
Caso Casagrande seja, de fato, candidato ao Senado como se especula, o vice-governador Ricardo Ferraço, assumirá o governo. É candidato quase natural a reeleição, até para dar sustentação a candidatura do grupo político ao senado. Ferraço não é homem de esquerda. Assim, o espaço que será aberto nacionalmente por uma centro direita comandada por partidos como PP, PSD, Republicanos, Podemos, União Brasil, PSDB e outros aqui no Espírito Santo será disputado de forma intensa por políticos muito experientes. A narrativa que cada grupo encontrar para os nossos desafios, e a aliança que fizerem com a sociedade civil, será central nos próximos movimentos.
O projeto político capixaba, inaugurado no limiar do século XXI, pode ter sua primeira inflexão em 2026, ganhando uma densidade de centro direita mais clara, inclusive dentro do grupo político que hoje ocupa o Palácio Anchieta. A redução de importância da extrema direita, e a recuperação da importância da centro esquerda, situada em sentido antagônico ao da direita, é que dirão os destinos dos fragmentos do legado do ex-presidente, agora inelegível. Toda essa acomodação é que temos que acompanhar, para poder decifrar os destinos políticos do Espírito Santo.
Artigo publicado originalmente no jornal A Gazeta no dia 15 de julho de 2023.

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