Por João Gualberto e Ana Carolina Andrade
Esse é o terceiro de uma série de artigos que estamos escrevendo sobre a identidade evangélica no Brasil de nossos dias. No primeiro, chamamos a atenção para o fato de não podermos tratá-los como se fossem um só bloco, como se não houvessem muitas diferenças internas. O fato da maioria das denominações terem se unido na candidatura de Jair Bolsonaro em 2018 não as torna bloco só o tempo todo, como aparece na leitura cotidiana da imprensa.

No segundo dos artigos tratamos de como os chamados neopentecostais, entre os quais se destacam os fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus liderada pelo bispo Edir Macedo e as muitas denominações surgidas a partir dela como a Mundial do Poder de Deus ou a Igreja Internacional da Graça de Deus, abraçaram a chamada Teologia da Prosperidade e fizeram dela um elemento diferenciador no universo do cristianismo brasileiro. Igrejas de base muito popular, reúnem sobretudo moradores das periferias urbanas de todo o Brasil e divulgam além da fé em Cristo, a fé no crescimento individual de cada um dos membros. Ao realizarem a transformação da aceitação da pobreza natural no cristianismo tradicional brasileiro em luta pela melhoria de suas vidas, estão contribuindo para uma mudança importante na cultura brasileira. E isso não é pouco.
No presente texto, queremos trazer um novo elemento para a reflexão dos nossos leitores. É que sobretudo no presente século XXI, a sociedade brasileira foi tomada por uma nova onda igrejas evangélicas. No primeiro texto, as chamamos de Igrejas da Parede Preta, porque tem uma arquitetura interna que valoriza o fundo dos altares com as cores escuras para facilitar a transmissão dos cultos pelo Youtube e outros canais das mídias sociais. São igrejas frequentadas sobretudo pela juventude de classe média e classe média alta urbana desse imenso Brasil. A Bola de Neve, a Batista Atitude, a Lagoinha, a Fonte de Vida, a Ser Amor ou a Missão da Praia da Costa são exemplos desse gênero de denominação presentes no Espírito Santo.

Seus cultos são tomados por cantos de louvores com base na música “worship” e a estética como um todo de ambientes e frequentadores marcados pela modernidade, pela descontração e também pelo uma outra relação com a prosperidade. Evidentemente que esses elementos estão longe de esgotar as características desse universo. Estamos apenas chamando a atenção para alguns no contexto desse espaço. Mas, do ponto de vista da sua contribuição à cultura da prosperidade que também marca as igrejas de corte mais popular, o fato que mais nos chama a atenção é seu foco no empreendedorismo.
Enquanto as igrejas mais tradicionais têm seu eixo central voltado para o reino dos céus e das atitudes que devemos ter para ser dignos dele, essas igrejas também se preocupam muito com o progresso material dos seus membros. Mais do que se preocupar, estimulam e orientam o empreendedorismo. Tratam todos como empreendedores natos e chamam a atenção que Deus colocou na terra bens e oportunidades que todos devem poder desfrutar. Todos têm o direito de desfrutar. Faz parte das habilidades que essas igrejas devem desenvolver nas pessoas, a preparação para se servir desses verdadeiros presentes que Deus nos oferece.
Assim, em seu conjunto a, digamos, modernização do cristianismo tradicional as aproximou dos padrões norte-americanos da busca da vida próspera. Introduziu e aprofundou os elementos essenciais para a construção de uma sociedade afluente e que busca com mais determinação melhorar a vida familiar de todos. São novos padrões de comportamento coletivo que devem ser observados por todos, para não corrermos o risco de não entendermos o que se passa no Brasil e o que deve determinar nosso futuro como sociedade.
Artigo publicado originalmente no Jornal ES Hoje, no dia 21 de setembro de 2022.

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