O histórico recente da polarização política e eleitoral no Brasil, começa em 2013, nas manifestações gigantes que sacudiram o país. Ali também começou a construção da nossa nova direita. Essa trajetória cria, ao mesmo tempo, o fortalecimento de uma direita como nunca tivemos e um polo que se antepõe e polariza com ela.
Esse quadro ficou ainda mais acirrado com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, sobretudo nas grandes manifestações populares que produziu. A essa altura a questão alcançou também as massas, pela intensa utilização das redes sociais e do mundo digital.
Tivemos, na sequência política, as eleições de 2018 –de 2014 e 2016 sofreram menor impacto, o processo estava amadurecendo – um marco de disruptura e também de enorme polarização eleitoral. Jair Bolsonaro pilotou um processo de desconstrução do campo da política tradicional, conseguindo em torno de sua candidatura uma coalizão de forças que foi desde o cristianismo conservador até o discurso armamentista, desde o monarquismo até o agronegócio. Isso para não ampliarmos muito essa discussão.
Para quem acompanhou surpreso as eleições de 2018, mais surpreso ainda ficou com o que ocorreu em 2022. Tivemos no ano passado uma potencialização do que havia ocorrido em 2018. A coalizão bolsonarista disputando contra o arco de alianças construído pelo PT, eletrizou as eleições. O mundo eleitoral ficou dividido de tal forma que o número do partido do ex-presidente Bolsonaro, o 22, arrastou uma lista de políticos pouco expressivos em todo o Brasil. O mesmo fato ocorreu com o 13 do PT. Ou seja, uma eleição onde o comportamento moral de muito valeu, e onde as gestões dos candidatos contaram menos do que suas narrativas.
Estamos agora diante de um novo momento eleitoral, as eleições municipais de 2024. Quem acompanha o quadro da construção do cenário das disputas pode ver muito bem os movimentos atuais. Os grandes personagens da nossa cena política já estão em ação. Partidos, candidatos, gestões municipais, regionais e mesmo a nacional fazem suas apostas e criam suas lógicas de ação. Nesse momento cabe a pergunta: serão às eleições de 2024 tão polarizadas quanto as eleições nacionais?
Quando olhamos o que ocorreu em 2020, vemos que temos traços, ainda que menos intensos, desse quadro polarizado em muitos municípios, sobretudo os maiores. Não com a intensidade generalizada do que se passou nacionalmente, e mesmo regionalmente. Faço aqui uma ilação, uma suposição. Parece que a questão da avaliação das atuais gestões municipais terá mais peso do que teria no quadro da vitória de Bolsonaro em 2022.
Quero explicar. O número de candidatos que seria alavancado pela direita no caso de sua vitória, sobretudo pelas redes sociais, seria muito maior do que aqueles que a esquerda com seus velhos métodos é capaz de alavancar. Assim, o debate ideológico e moral fica menor. De outro lado, as posições adotadas pelo ex-presidente Bolsonaro reduziram – ao menos nesse momento – seu capital político. Não sabemos onde chegarão os imbróglios jurídicos em que anda metido, mas sabemos com clareza que ele não tem o tamanho que teria caso tivesse sido eleito.
Os atores locais de extrema direita estão mais silenciosos do que no ano passado. Os partidos conservadores estão em busca de seus caminhos, contando em menor grau com o papel de Bolsonaro. Ainda não tem um líder nacional, que acabará surgindo. Enfim, com tudo isso acontecendo as disputas tendem a ser mais locais, a se centrarem mais nas avaliações das atuais gestões e dos atributos dos demais candidatos. Mais gestão e menos ideologia, parece ser um elemento do futuro processo eleitoral.
Artigo publicado originalmente no jornal A Gazeta no dia 08 de abril de 2023.

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