Por João Gualberto
Todos os que como eu acompanham a política brasileira, viram o enorme esforço que foi feito por grandes personagens nacionais, para viabilizar a chamada terceira via na eleição presidencial do ano passado. Havia uma grande expectativa de que o eleitorado estava cansado da polarização Bolsonaro X Lula. Sobretudo o gestual tóxico do então presidente acendia a expectativa de que aquela dupla poderia ser superada. Tivemos muitos movimentos nesse sentido.
Vamos lembrar de dois deles, ambos muito importantes. O primeiro os movimentos do governador Eduardo Leite do Rio Grande do Sul para ser o candidato do PSDB. Não conseguiu. Em luta típica da velha política, o então governador de São Paulo venceu as eleições internas no partido. Acabou não se viabilizando, e o PSDB fez triste passagem eleitoral. O partido diminuiu no processo, e nós perdemos a chance de ter uma candidatura mais atual.
Outro movimento fez o apresentador de televisão e homem de fácil comunicação, Luciano Huck. Tentou de várias maneiras e com muitos apoios importantes construir um caminho alternativo a polarização. Desistiu precocemente, sequer se filiou a um partido político. Sua compreensão de que aquele não era o seu melhor momento, infelizmente estava correta. Isso sem falar no Ciro Gomes e na Simone Tebet, que não conseguiram grandes palanques.
Hoje a polarização continua, embora enfraquecida pelos evidentes problemas do ex-presidente Bolsonaro para explicar muitos fatos no seu governo. Fatos esses que envolvem todo o clã familiar. De outro lado, Lula mostra-se aquém das necessidades brasileiras contemporâneas. Mostra-se um líder envelhecido e com o farol voltado para trás. Suas falas não o ajudem em nada. Nem a ele e nem ao seu governo.
Ou seja, precisamos mesmo construir uma via pelo meio, moderna, democrática, inclusiva e que permita a expressão de nossa diversidade. Essa via parece que não será construída pelo alto, pela ação das velhas elites. Claro que o centrão e os personagens de sempre, vão vestir novas roupagens. Vão tentar modernizar narrativas para conquistas o eleitorado cheio de vontade de construir um outro Brasil. Seguramente não são nosso caminho.
Nosso caminho é ter uma multidão de pequenos lideres nas muitas frentes que constituem a nossa sociedade, como os cristãos evangélicos e católicos, as lideranças comunitárias, a gente da agricultura renovada, os empreendedores dos novos negócios e também dos negócios tradicionais. Enfim todos aqueles, independentes da faixa etária, que estejam a frente de processos importantes. Precisamos trabalhar lideranças comprometidas com o diálogo estratégico, com a democracia, com os novos valores que empoderam as pessoas e facilitam a prosperidade.
Muitas entidades, inclusive empresarias, tem prestado um bom serviço ao Brasil nesse sentido. Precisamos preservar as conquistas, mas também precisamos sair da bolha das lideranças dos setores mais privilegiados. Temos que conversar com as pessoas mais comuns, as lideranças do dia a dia que levam esse país para frente. Formá-los melhor. Manter um sistema permanente de atualização. Reforçar o ethos democrático.
Sem lideranças democráticas na base da pirâmide social, não avançaremos na construção da nossa verdadeira terceira via.
Artigo publicado originalmente no jornal A Gazeta no dia 20 de maio de 2023.

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