O varguismo capixaba

Por João Gualberto

Getúlio Vargas chegou ao poder em outubro de 1930. No Espírito Santo, nomeou como primeiro interventor João Punaro Bley, que conduziu nosso estado por longos treze anos. Aprendeu a se equilibrar no jogo de poder. Foi o dirigente mais longevo de nossa história política. Governou até 1943, quando foi substituído por Jones dos Santos Neves. inclusive, o criador do nosso Banco de Crédito Agrícola, que seria transformado no Banestes no governo de Christiano Dias Lopes, nos anos 1960.

Esse movimento de substituição de Bley por Jones ocorreu quando Vargas se articulava para sobreviver em uma nova fase política, quando seu período ditatorial já dava mostras de esgotamento. O novo governo foi o responsável por muitos avanços econômicos.

João Punaro Bley denominado pelo historiador Fernando Achiamé como “nosso pequeno Vargas”, foi o artífice de nossa transição. Aplicou em nosso território os mesmos princípios da modernização conservadora de Vargas. Quando ele fez sua inflexão trabalhista e ampliou o assistencialismo do Estado, inventou, para ancorar essa ação, a figura da Primeira Dama, que, até então, não havia no Brasil.

Dona Alzira Vargas, foi a primeira a exercer esse papel. Sobre ela recaíram as políticas assistencialistas públicas. Da mesma forma, sobre Dona Alzira Bley recaíram as principais ações assistencialistas aqui no Espírito Santo. As cestas de natal distribuídas aos pobres é um exemplo clássico desse olhar. Um sinal de que o governo não podia ser apenas uma ação entre os proprietários de terras, tinha que ter um aceno para o mundo dos pobres. Claro que havia um projeto hierárquico entre as classes no trabalhismo varguista trazido ao Espírito Santo.

Outro elemento desse processo foi a construção, em parceria com o clube de futebol Rio Branco, daquele que seria um dos maiores estádios do Brasil em sua época, o Governador Bley, em Jucutuquara. Esse estádio serviria para abrigar as partidas do esporte que começava a ser o mais popular no Brasil, mas também para as grandes manifestações cívicas de que tanto gostava o regime de Vargas. Sua utilização em Vitória equivalia ao que o Estádio São Januário representava na capital da república.

Em seu longo governo, João Punaro Bley fez muitas obras importantes em nosso estado. Construiu a Escola Técnica de Vitória, a Escola Agrícola de Santa Tereza, a Faculdade de Farmácia de Vitória, a Faculdade de Direito, entre outras obras no campo da educação. É dele também a construção da Hospital dos Servidores Públicos de Vitória, mostrando que saúde e educação eram importantes em seu governo. Fez também intervenções urbanas em Vitória.

A conclusão de obras do Porto de Vitória e o início das operações de exportação de minério de ferro foram obras que também marcaram a sua gestão, do ponto de vista econômico. O café continuava sendo o principal pilar da economia capixaba. Mas esses primeiros passos foram muito importantes na caminhada do desenvolvimento inserindo por base a diversificação econômica.

Entretanto, foi a curta interventoria de Jones dos Santos Neves, de 1943 a 1945,o ponto de inflexão em nossa história política e econômica, até porque Jones era um quadro político muito preparado intelectualmente. Jones sempre esteve muito preocupado com a nossa industrialização. A excessiva dependência da economia cafeeira, já dava sinais de desgaste e exaustão, naquele momento.

Para enfrentar os novos tempos eram necessários modernos instrumentos de gestão. Seria preciso ter um aparelho de estado capaz de dar conta dos novos desafios ao desenvolvimento econômico e social. No plano da gestão, tivemos a criação do DSP – Departamento do Serviço Público – nos mesmos moldes do DASP do governo federal. Na verdade, logo nos primeiros meses de seu mandato, Jones mudou o organograma do governo, criando secretarias e departamentos. Inovou, de forma geral, os processos de gestão. No dia em que foi publicada a nova estrutura organizacional do governo, alterou vários processos de gestão de pessoas, inclusive referentes a nomeação e remoção de professoras, sempre um elemento da política de favores políticos.

Devemos a ele, também, outro importante elemento da racionalização das ações do governo, O Plano de Obras e Equipamentos, através do qual ele organizou as intervenções que o estado faria em seu período de governo, mostrando como a modernização das ações do estado eram importantes na sua visão. Na verdade, Jones foi o responsável por um grande salto em nossa governança pública de modernização das funções do estado. Era muito moderno para a sua época.

Podemos dizer, sem medo de errar, que a Era Vargas fez uma ponte, uma transição, entre o velho coronelismo da primeira república e o início das tentativas de desenvolvimento industrial. Teve um papel fundamental na história econômica do Brasil e do Espírito Santo, apesar do atraso político que também portou. Afinal, na história, nada é de todo bom ou de todo mal. Tudo tem uma balança que comporta vários pesos.

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7 respostas para “O varguismo capixaba”.

  1. Avatar de João Euripedes Franklin Leal
    João Euripedes Franklin Leal

    Parabéns pelo texto. Muito bom
    Enviado do meu iPhone

  2. Avatar de Maria Bossois
    Maria Bossois

    Sempre um ótimo registro da história.

  3. Avatar de Rose Tristão
    Rose Tristão

    Não conhecia a historia do nosso Estado, com todos esses elementos! Muito bom!!
    Adorei! 👏👏👏👏👏👏

  4. Avatar de bethpolido
    bethpolido

    Caro João,

    Seu texto sobre o “Varguismo Capixaba” oferece uma perspectiva rica da história política e econômica do Espírito Santo, especialmente ao destacar figuras como João Punaro Bley e Jones dos Santos Neves. É interessante refletir sobre como as políticas e os projetos implementados por esses líderes contribuíram para moldar o estado que temos hoje.

    Olhando para os dias atuais, percebemos como as escolhas políticas do passado continuam a influenciar o presente. A preocupação com a industrialização e a modernização do estado, por exemplo, ainda são temas relevantes na agenda política capixaba. A diversificação da economia, a melhoria da infraestrutura e o desenvolvimento social ainda são desafios que precisam ser enfrentados.

    Além disso, a atuação de líderes políticos no passado, como Bley e Jones, nos faz refletir sobre a importância da gestão eficiente e do compromisso com o desenvolvimento do estado. Suas iniciativas em áreas como educação, saúde e infraestrutura deixaram um legado que ainda impacta a vida dos capixabas.

    Em meio às transformações políticas e sociais que estamos vivenciando, é essencial olhar para o passado e aprender com ele. Seu texto nos lembra da importância de compreendermos nossa história para construirmos um futuro melhor para o Espírito Santo.

  5. Avatar de JOAO MARCOS DEL PUPPO
    JOAO MARCOS DEL PUPPO

    João, belíssimo artigo. Meu avó materno, esteve presente na inauguração da ponte de Linhares, salvo engano, e, 1954, a única vez que Vargas teve no ES.

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